Resolvi escrever sobre meu parto
para tentar contribuir com as informações sobre o parto natural humanizado (ou simplesmente
saciar a curiosidade das amigas que queiram entender que raio é isso de parto natural
humanizado). De fato, infelizmente, ainda me sinto um bicho do mato quando falo
sobre minha opção. As pessoas me olham espantadas, não sei se pensando que sou corajosa
ou que sou doida mesmo. Mas, isso é um tabu que estamos quebrando aos poucos
com a chegada das informações seja via televisão, internet, redes sociais ou
pelo crescente número de mães que estão fazendo esta opção também. Não
desaprovo quem escolhe fazer cesárea. Na minha cabeça, acho que falta
informação. Quem busca informação sobre o assunto, acredito que não conseguirá
fazer outra escolha senão a forma mais natural e linda de se trazer um filho ao
mundo. Se optar pela cesárea também, não tem problema. Pelo menos a pessoa
está informada sobre suas opções para este momento tão importante.
Engravidei do Felipe de forma não
programada quando a Larissa estava com apenas um ano e um mês de idade. Confesso
que o medo do parto superou meu medo de como daria conta de dois bebês. O parto “normal” da Larissa foi muito traumatizante
e só de pensar em passar por tudo aquilo de novo, eu gelava. Iniciei o pré natal
no posto de saúde aqui de Ipeúna. O médico foi bem receptivo, mas posto de
saúde já viu, né?! Um monte de gravidas para um só médico atender. Consultas de
no máximo cinco minutos. Tinha dúvidas sobre o parto, queria que fosse diferente
do primeiro. Mas, ele não me respondia nada. Dizia que era cedo para
falar sobre isso. Na verdade, me sentia igual às consultas do plano, sem
entender nada sobre parto normal. Como num procedimento padrão para todas as
grávidas que optavam pelo parto normal, você vai ao hospital quando começarem
as contrações, eles te enfiam ocitocina, fazem zilhões de toques, mexem no bebê
para “encaixar”, te cortam (episiotomia), empurram sua barriga e o bebê nasce.
Rapidinho! Mas, eu pensava que NÃO ERA POSSÍVEL ser daquele jeito para todas as
mães que optavam pelo parto normal. Isso não deve ser o normal. Por isso, minhas
dúvidas eram se eu podia evitar esses procedimentos e ninguém me respondia.
Quando já estava no final da
gravidez, resolvemos procurar uma doula. Na minha cabeça (e de muitas pessoas),
essa profissional era aquela “radical” que queria ajudar pessoas “radicais”. Até
usei este termo no nosso primeiro encontro, ela riu, e hoje me encontro, aqui, defendendo
essa “coisa hippie”, esse procedimento tão simples, natural, lindo e
inesquecível. Enfim, a doula foi a peça chave para tudo o que procurava. Ela
tirou todas as minhas dúvidas, me explicou sobre cada procedimento, me fez
refletir e me deixou à vontade para escolher o que EU iria querer para o MEU
parto. Daí coloquei tudo num plano de parto e entreguei no hospital que escolhi
ter meu filho. Felipe é sãocarlense, pois seria impossível realizar o parto da
forma que queria em Rio Claro (Ipeúna não tem hospital). Larissa nasceu em Rio
Claro e já sabíamos como seria lá. E ainda por cima, verificamos que não era
permitida a presença da doula durante o parto. Já em São Carlos, o hospital
público possui sala especial para parto natural. As enfermeiras obstetras já estão preparadas
para esse procedimento e aceitam a presença do pai e da doula.
O nascimento do Felipe começou
numa madrugada de quarta para quinta (18-19/06/14) quando estava completando 40
semanas e 3 dias. As contrações começaram de meia em meia hora, mas fracas.
Como não sabia o que fazer, liguei para a doula. Achamos melhor ir para São
Carlos, mas no caminho as contrações pararam. Voltamos para casa e tentei
descansar um pouco. De noite, as contrações voltaram. Passei a noite sentindo e
marcando o tempo. Estavam irregulares. Confesso que depois de duas noites sem
dormir, sentindo dores, já tinha desistido. Pedi para ir ao hospital. Nessa
hora o pai é fundamental. Como ele havia me acompanhado em todas as reuniões
com a doula, estava até mais entendido sobre o assunto do que eu. Ele não me deixou
ir ao hospital. E eu agradeço muito a ele por isso.
Então, a doula veio para minha
casa. Ficamos o dia todo em nossa casa, tranquilos, com nossos bichos, no nosso
ambiente, sentindo as contrações, procurando a melhor posição para senti-las, vendo
tv, descansando um pouco, conversando. Foi demais! Imagina passar esta fase no
hospital?! Quando começou anoitecer, resolvemos ir para São Carlos. Nessa fase,
as contrações estavam ritmadas de dez em dez minutos. Ficamos na casa da doula
e não passou muito tempo entrei em trabalho de parto efetivamente. Fiquei no
chuveiro, sentindo, fazendo exercícios, relaxando até as contrações chegarem de
cinco em cinco minutos. Fomos pro hospital e as contrações passaram para três
em três minutos. A enfermeira me examinou e disse que eu já estava com oito dedos
de dilatação, que já conhecia meu plano de parto e que podia ir direto pra sala
de parto. Fui para o chuveiro. Chuveiro alivia bem. A bolsa estourou. Não
demorou muito a enfermeira veio me ver e disse que o Felipe já estava chegando.
Sentei no banquinho e as contrações vinham junto com aquela vontade de fazer
força. A cada força, o Felipe vinha um pouquinho. Pedi para o pai ficar atrás
de mim, pois assim eu sentia o cheiro dele e também ele me ajudava na hora de
fazer a força. O cheiro dele me acalmava nos intervalos das contrações. Nesses
intervalos, a gente conversava. Eu ouvia as músicas que havia escolhido. Estava tudo
tranquilo e gostoso. A enfermeira me mostrava como estava indo com um espelho.
Quando ele começou a sair, eu já conseguia fazer carinho na cabeça dele. Que
sensação maravilhosa! Faltava muito pouco. Mais umas três forças e ele nasceu.
A enfermeira somente apoiou a cabeça dele, ele saiu, girando, e eu peguei ele.
Ele chorou um pouco, coloquei no meu peito e logo parou. Tão lindo! O pai fez
carinho e, assim que o cordão parou de pulsar, ele cortou. Só depois disso que
tiraram ele de mim e levaram para os exames com o pai sempre presente. Foi bem
rápido. Foi o tempo de sair a placenta, eu me levantar e sentar na cama. Logo,
já vieram com ele e com comida. Tava com uma fome! Tomei um banho e fui andando para o quarto.
Não sei se fui clara, então um parenteses: nenhum médico esteve presente no nascimento do Felipe. Somente depois que ele nasceu,um pediatra entrou para examina-lo. Quem realizou o parto fui eu, hein?!
O Felipe nasceu de sexta para sábado à meia noite e cinco do dia 21 de junho. Veio canceriano e no inverno por cinco minutos. Veio muito calmo, tranquilo. Não chorava. Não
tive problema para amamentá-lo. Meu leito desceu rápido e ele pegou rápido. Cuidei dele tranquila no dia seguinte. E ainda ajudei uma mãe que havia feito
cesárea que não conseguia cuidar de sua bebê. Ficamos juntos o tempo todo. Senti
como se nossa ligação tivesse aumentado após o parto. Com a Larissa, infelizmente, me sentia mal no começo. As lembranças eram
tristes. Nossa ligação teve que ser construída dia após dia. A minha indignação
ficou ainda maior no dia seguinte, quando o médico veio me examinar e nem me
examinou, somente nos informou que, como foi parto natural, eu já estava de
alta e que precisava somente esperar a alta do Felipe. E o Felipe teve a alta
antes das outras crianças. Os pediatras que o examinaram acabaram cedendo às 48
horas de hospital já que o Felipe não apresentava nenhuma irregularidade. É duro ouvir isso quando se sabe que os médicos empurram as mães para as cesáreas. Ouvi muitos relatos no hospital que falavam isso.
Enfim, não sei se correspondi às
expectativas ou se esqueci de alguma coisa, espero que me desculpem se não. Escrevi
com carinho. E se de alguma forma ajudar as pessoas buscarem informações sobre
o assunto, já me sentirei muito gratificada.